quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O Time dos Sonhos



Em um mundo anterior ao dos vídeo games, jogava-se futebol de botão. E cada menino tinha seus times tradicionais, com seus escudos e até, com foto dos jogadores (sim, naquele tempo, raramente um jogador trocava de time). Mas também se tinha o time dos sonhos. Não eram times com conhecidos, com adesivos impressos. Às vezes, nem escudo tinham e eram na verdade, botões reaproveitados de times incompletos que, sob um escudo imaginário permitia, num desvairio, reunir todos os craques em um só time.

Lembro do Montreal, um dos meus times dos sonhos. Dasayev, Blochin, Falcão, Ardiles, Bettega e outros. Imbatível. Mas hoje, assistindo uma partida da televisão (aliás, tenho assistido muitos jogos da  Champions League), fiquei imaginando como montaria um time dos sonhos.

Começaria com um bom goleiro, holandês. Sólido como os diques de Amsterdam e funcional como as pontes sobre o Waal. Um representante de povo acostumado a se defender da natureza não teria problemas para se defender de um ataque adversário. E sem o risco de morrer afogado.

A zaga. Não abriria mão de uma zaga completamente alemã. Uma nova edição da Fortaleza Europa, mas que funcionasse contra qualquer invasão. Duros, mal-humorados e frios. Um sinônimo de confiabilidade, precisão e segurança. E ainda por cima, falando uma língua que parece ser um prenúncio de briga. Um simples “– É minha!!” já pareceria uma ameaça para os atacantes adversários.  Além disso, se entenderiam bem com o goleiro holandês. Estaria bem o meu time, lá atrás.

Meio campo. Começariam os problemas. Um volante russo, acostumado a se sacrificar por uma causa maior seria uma boa opção. Oferecer o primeiro combate, auxiliar a defesa,  marcar, apoiar o ataque, cobrir a subida dos alas. Nem imagino o que ele exigiria nos vestiários como compensação, mas valeria a pena. Sim, eu sei que têm a história com os alemães, mas seria necessário apenas um pouco de cuidado em dias muito frios.  Armadores gregos? Muito óbvio. E, cá entre nós, a Grécia não é um berço de craques. Definitivamente, sem gregos. Optaria por uma mescla de italianos e franceses. Elegantes, habilidosos, criativos e com muito estilo. São na essência latinos, o que atribui sangue e uma certa alegria. Mas nada exagerado e frívolo. Os franceses teriam problemas com o russo, mas também, não se pode agradar a todos. E completando este setor, como meia ofensivo, um argentino. Um legítimo portenho, um bailante de tango, capaz de improvisar passos impensados frente ao marcador. Acostumado com grandes alegrias e grandes tragédias, sairia de maca aplaudido, ou carregado aos prantos em caso de derrota. Se não fosse expulso antes.

Meu ataque dos sonhos teria um nigeriano ou ganês, rápido como o vento, capaz de alcançar as bolas mais longas, de resistir às investidas raivosas dos defensores adversários. Um jogador criado um clima hostil, onde para sobreviver é preciso ser forte. Quem resistiu a isso, pode suportar o ataque massivo às suas canelas. E continuar correndo.  Poria também um espanhol. Visceral, manhoso, mas com a ginga de um toreador. Capaz de olhar o goleiro nos olhos e anunciar seu golpe fatal. E depois olhar para a torcida com um ar blasé. Todos correriam para abraçá-lo. Menos o russo.

E sonho, dos sonhos, fecharia meu ataque colocando o Romário.  E como o sonho e o time são meus, me reservo o direito de nem precisar explicar.